Faltando apenas um mês para o encerramento do ano, é possível afirmar que 2025 foi um período marcado por profundos desafios e retrocessos para a política de HIV/AIDS no Ceará. As perdas acumuladas ao longo da última década seguem sem reparação, tanto no âmbito estadual quanto municipal.
No Estado, o Programa de Aids foi reduzido, desde 2015, à condição de um Grupo de Trabalho (GT). Em Fortaleza, o Programa Municipal também sofreu rebaixamento institucional, passando a funcionar apenas como uma Área Técnica. Apesar das reiteradas reivindicações do Movimento de Luta Contra a AIDS, nenhum dos dois voltou sequer a ocupar o status de Coordenação nos organogramas da SESA-CE e da SMS Fortaleza — o que compromete o planejamento, a execução e o monitoramento das ações de enfrentamento à epidemia.
Neste 1º de dezembro de 2025, os dados escancaram a gravidade do cenário. O Boletim Epidemiológico do Estado registra 231 óbitos por AIDS entre janeiro e 7 de novembro. Ao final do ano, a projeção é de que mais de 300 pessoas tenham perdido a vida em decorrência da doença. Esses números evidenciam que o Ceará ainda não dispõe de uma política de HIV/AIDS capaz de atender, de forma adequada, as Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA).
Dados oficiais registrados no sistema do Ministério da Saúde apontam que 31% dos diagnósticos no Estado ocorrem com contagem de CD4 abaixo de 200, caracterizando quadro de AIDS avançada. Trata-se de uma situação inadmissível. As pessoas não estão sendo testadas no tempo oportuno. Assim, o que deveria ser um diagnóstico de HIV torna-se, tardiamente, um diagnóstico de AIDS — reflexo direto da fragilização da prevenção, do acesso ao teste e da atenção básica.
Diante desse contexto, neste dia simbólico para o Movimento de Luta Contra a AIDS e, sobretudo, para as pessoas que vivem com HIV/AIDS, a RNP+ Ceará vem a público reafirmar e reivindicar pautas históricas que seguem sem resposta do poder público:
- Reforma urgente do ambulatório do Hospital São José;
- Criação e fortalecimento das Coordenações de IST/HIV/AIDS e Tuberculose, no Estado e na SMS Fortaleza;
- Implantação de novos serviços de atenção ao HIV/AIDS, especialmente nos municípios que não assumem sua responsabilidade sanitária;
- Passe livre no transporte público para pessoas vivendo com HIV em Fortaleza;
- Editais públicos de apoio à sociedade civil organizada.
Essas reivindicações não são novas. Elas exigem, com urgência, que o Estado do Ceará, o município de Fortaleza e os demais municípios cearenses reconheçam o protagonismo da sociedade civil, convoquem os movimentos sociais para o diálogo e construam, de forma conjunta, estratégias e ações concretas.
Somente assim será possível impedir que este cenário de mortes evitáveis, diagnóstico tardio e negligência institucional se repita no 1º de dezembro e na abertura do Dezembro Vermelho de 2026.
Viva a vida.
RNP+ Ceará
Fortaleza, 1º de dezembro de 2025.




